16 de novembro de 2007

Felizes Para Sempre

Telma era a personificação da felicidade; véspera de seu casamento, toda a costumeira correria com roupas, maquiagem e últimos acertos.

Única pessoa que não está feliz é a mãe, com semblante preocupado lembra dos três casamentos anteriores da filha. Não foram três casamentos seguidos de separações, mas sim três casamentos que não aconteceram por ausência de noivo no altar. Cada casamento em uma cidade diferente, com um noivo diferente mas o mesmo desfecho: O desaparecimento do noivo.

De família tradicional, proprietária da grande olaria da capital do estado, Telma, após cada tentativa de casamento mudava-se de cidade à procura da felicidade conjugal. Muitas vezes não era compreendida pelas amigas, pois moça estudada, única filha e herdeira de um patrimônio considerável deveria estar mais interessada em assumir a frente dos negócios da família, já que seu pai sofria com o desgaste natural que o tempo infringe a todos.


Pontualmente às dezenove horas, o charmoso LTD branco está parado em frente a porta da igreja matriz, a noiva e seu pai dentro dele apenas aguardam o sinal de que tudo está pronto para a triunfal entrada da noiva e seu pai pelo corredor principal da igreja.

Não importa quantas vezes aconteça, a despedaçada noivinha sempre sai chorando e, em profunda depressão, pede para passar uns dias na casa dos pais para se recuperar do choque. Pedido que é prontamente aceito pelos seus progenitores que não se conformam com o azar da filha em escolher sempre o tipo errado de homem, apesar de cada um deles ser totalmente diferente do anterior tanto física quanto espiritualmente. Todos eles fogem no dia do matrimônio e nunca mais são vistos, nem por amigos nem pela polícia que em vão os procura.


Na olaria da família, primeira hora do dia, junto ao forno principal está Telma com a mala que supostamente continha as roupas que seriam usadas na lua-de-mel, aberta chão à sua frente revelando o saco plástico grosso que segura o sangue e um corpo sem vida em seu interior. Ela joga o saco com os restos mortais de seu último noivo dentro do forno e acende o fogo para começar mais um dia de trabalho na fábrica.

Enquanto observa o fogo consumir o que restou do finado ela se despede da mesma forma que se despediu dos três noivos anteriores, cuspindo e esquecendo-se deles que, ao invés de amá-la como ela merecia, apenas se interessavam em, num futuro próximo, tomar conta dos negócios de sua família. Fardo que, quando chegar a hora, ela o carregará com muito orgulho e não admite entregá-lo a um interesseiro qualquer.


Criado e postado originalmente em http://zoltrax.blogspot.com por NFL.

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