19 de dezembro de 2007

Natal

Como manda a tradição familiar em época de natal, Dona Elvira monta o pinheirinho e espalha cuidadosamente pelo jardim as lâmpadas amarradas a armações de arame, formando renas e Papai Noel num trenó. Nas árvores estrelas cadentes, no canteiro de flores duendes, ajudantes do bom velhinho.

A única diferença em relação aos anos anteriores é a ausência de seu esposo, Nicolau, que sempre a ajudara em tais tarefas; mas devido a uma pneumonia veio a falecer em Agosto. Era ele quem sempre pendurava as luzes nos galhos mais altos das árvores.

A velha senhora não se conforma com a partida do esposo. Pensa nele todos os dias, principalmente nesta época em que eles sempre viajavam para algum retiro ou, quando a situação exigia mais economia, para a casa de um dos filhos.

Eis que a octogenária toma grande susto, quando ao passar pelo jardim voltando do mercado, tem a impressão que uma das estrelas está mais alta do que quando ela a montara na véspera.

- Deve ser arte dessa molecada! - Pensa.

Outro dia se passou e mais uma estrela apareceu no exato ponto onde Seu Nicolau as montava.

- Ah, mas essa noite eu pego esses malandros!


À noite Dona Elvira pega sua manta e fica sentadinha atrás do canteiro das hortências, de onde é possível ver todas as árvores. Está quase cochilando quando nota uma das estrelas se movendo. Levanta de pulo, vassoura em riste e já pronta para escorraçar o marginalzinho, mas o que ela vê a paralisa: Um vulto branco! Só pode ser ele!


- Nico! - Exclama quase sem voz. - Que você está fazendo meu velho?


- Elvira, sua insana! - Grunhe o desencarnado Seu Nicolau. - Você não me deixa partir para o descanso. Não para de choramingar minha ausência. Por isso, hoje você vai comigo!


O corpo de Dona Elvira só foi encontrado na véspera de natal, pelos filhos que chegavam para a ceia. Ainda segurava rija a vassoura e olhava para a única árvore que tinha a estrela cadente colocada mais abaixo das outras.



Criado e postado originalmente em http://zoltrax.blogspot.com por NFL.

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