8 de agosto de 2008

A Criatura

O termômetro marca dez graus na cidade e a noite está apenas começando. Esfriou rápido. Os pombos se encolhem e os gatos se entocam encolhidos, sem coragem para encarar o vento gelado e o chão ainda molhado da chuva, que há dois dias cai ininterrupta.

Entretanto uma criatura acorda para a noite, começa sorrateira sua caminhada noturna pelos becos e ruelas escuras. O centro da cidade, local ideal para alguém como ela, pois ao cair da noite já encontra moradores de rua, bêbados, prostitutas e viciados perambulando em seu território. O cheiro da podridão humana lhe atrai, ela gosta de estar entre estes moribundos, energiza-se através da fraqueza destes.

Andando pelas sombras avista sua próxima vítima, uma putinha nova, menina vinda do interior que sonhava se formar na faculdade mas largou tudo quando começou a se vender para pagar os recém adquiridos vícios que facilmente contrai-se nas grandes cidades.

Ela cerca e encurrala a menina que, torpe, não consegue gritar por socorro e tem o corpo perfurado pelas garras de sua algoz. O sangue escorre e satisfaz a assassina que uiva de prazer enquanto lambe o rubro líquido ainda quente e come a carne fresca da vítima.

Esta criatura sempre esteve aqui, desde quando a cidade ainda era coberta de árvores, capões e relva. O progresso dos humanos não vai exterminá-la, seu alimento hoje é a maldade, a mesquinharia e o egoísmo. E por mais que mudem os hábitos da população ela se adapta. Ela é terra, é ar, é fogo. A única coisa que se tem a fazer é preservar a esperança de nunca cruzar seu caminho enquanto a lua estiver no céu.

Criado e postado originalmente em http://zoltrax.blogspot.com por NFL.

Nenhum comentário: